Daniel: Exatamente! Eu nasci no meio dos carros de competição e não foi por acaso que aos 14 anos comecei a competir no rali cross e aos 15 fui campeão. A paixão por este desporto levou-me, apesar das dificuldades, a fazer sempre uma época, época e meia e assim tem sido até hoje. Tenho dedicado a minha vida às corridas praticamente desde a infância. Por isso, passar as férias ao volante de um carro de corridas, acreditem, não é o maior dos nossos sacrifícios. Mas como se diz, quem corre por gosto não cansa.
A posição do Nuno, como copiloto, é uma posição difícil, não? Coloca-se nas mãos do piloto, não tem medo?
Nuno: Pode-se pensar que nada depende de mim, mas não é essa a realidade. O Daniel conduz, mas sou eu quem o guia. Na verdade, pomos a vida nas mãos de um e de outro, pois quando o Daniel avança para uma curva cega e eu lhe digo que é para ir a fundo, ele também acredita nas minhas palavras. Se não for a fundo, estamos os dois dentro do mesmo barco e sofreremos os dois as consequências. É uma relação de confiança. Eu tenho de confiar que ele sabe o que vai a fazer e ele tem de confiar que eu sei o que vou a dizer.
Depois, a questão do medo, já passou há muito. Os carros têm sistemas de segurança que nos protegem e, como tanto o Daniel como eu já tivemos acidentes com alguma gravidade, já percebemos que os riscos estão controlados. Além disso, quando entramos num troço cronometrado, o nível de adrenalina é tal que nem há dores de cabeça, nem há dores de dentes, nem há pensamentos que nos afastem do momento presente que estamos a viver. É aquilo que eu considero ser o estado de concentração puro, porque naqueles 10, 12, 15, 20 minutos em que vou a ditar notas ao Daniel e o Daniel vai a conduzir estamos exclusivamente concentrados naquilo que estamos a fazer e em mais nada.
Daniel: Ser copiloto não é nada fácil. Eu já estive no lugar do Nuno num rali extra campeonato e deu bem para perceber que não é uma tarefa fácil.
Como é a vossa preparação para as corridas, como treinam?
Daniel: Um momento muito importante na preparação da corrida é a fase do reconhecimento do rali. Nesta fase, há limites de velocidade que não podemos ultrapassar e tenho de dar todas as informações ao Nuno para ambos analisarmos o percurso, anotando os nossos reconhecimentos e garantirmos que está tudo no ponto para no dia da competição andarmos no Ford ao mais alto nível.
Nuno: Basicamente, o que fazemos é percorrer e passar todos os quilómetros de cada classificativa para o papel. Todas as curvas, todas as retas, todos os ressaltos, as raízes, as pedras... Tenho de escrever todo este tipo de dados no papel. O Daniel vai-me dizendo aquilo que vai a ver na estrada e eu aponto isso tudo. Na segunda passagem, eu leio-lhe aquilo que ele me ditou e vamos corrigindo cada pormenor. Este reconhecimento do percurso é imprescindível para no dia do rali correr tudo bem, passarmos ilesos e obtermos um bom resultado.
Daniel: É um trabalho necessário e exigente, pois os bons resultados também dependem em grande medida de um bom reconhecimento. Num primeiro momento, na estrada e, depois, no hotel, visualizando vídeos e confirmando que está tudo preparado para o dia da prova.